quarta-feira, 11 de abril de 2012

The Hunger Games

Cinema Fantástico

Com: Jennifer Lawrence (Katniss Everdeen), Josh Hutcherson (Peeta Mellark), Liam Hemsworth (Gale Hawthorne), Woody Harrelson (Haymitch Abernathy), Elizabeth Banks (Effie Trinket) Lenny Kravitz (Cinna), Stanley Tucci (Caesar Flickerman), Wes Bentley (Seneca Crane) e Donald Sutherland (President Coriolanus Snow)

Contexto:
The Hunger Games é uma distopia futurista pós-apocaliptica que tem lugar em Panem, onde há um Capitólio rico rodeado de 12 Distritos, alguns muito pobres. Como forma de punição pela rebelião contra o governo, o Capitólio criou os Jogos da Fome, um evento anual transmitido na televisão. Um rapaz e uma rapariga de cada distrito são seleccionados numa lotaria como "tributos" e têm de lutar até à morte numa arena, até só haver um único vencedor dos 24 representantes dos 12 distritos.

Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), a protagonista, oferece-se como tributo de forma a salvar a sua irmã mais nova, cujo nome saiu na lotaria, e, juntamente com Petta Mellark (Josh  Hutcherson) viajam para o Capitólio para treinarem e participarem nos Jogos da Fome sob a orientação de Haymitch Abernathy (Woody Herrelson), Effie Trinket (Elizabeth Banks) e Cinna (Lenny Kravitz). O Presidente de Panem é Corioulanus Snow (Donald Sutherland), Seneca Crane (Wes Bentley) é o responsável pelos jogos e o estranho apresentador do programa televisivo é Caesar Flickerman (Stanley Tucci). Há ainda algum destaque (mas muito pouco) para alguns dos outros concorrentes como é o caso de Rue (Amandla Stenberg) e Cato(Alexander Ludwig).

Crítica:
Atenção: spoilers.

A produção do filme foi grandiosa e está a receber a recompensa pelo seu trabalho com os excelentes resultados de bilheteira em todo o mundo. O bom desempenho de Jennifer Lawrence, que foi realmente a melhor escolha para o papel de Katniss, ofusca quase todo o restante elenco, mas é interessante ver Woody Harrelson num filme para o grande público e Donald Sutherland consegue deixar o público curioso sobre a sua personagem.

O filme tem um início atabalhoado em relação à câmara que parece não ter agradado ao espectador e principalmente à crítica. Mas esse início tremido ganha consistência e entra-se finalmente no mundo de Panem onde, no seu total, temos um bom filme, que no entanto não é fantástico. A cena sangrenta no início dos jogos está muito boa, mas a progressão na 'arena' nunca nos mostra um verdadeiro vilão (provavelmente o grande vilão será o Presidente Snow). Há a cena da morte Rue que é extremamente triste e cheia de ternura, e definitivamente, o Peeta devia ter morrido no fim (mas suspeito um futuro triângulo amoroso no futuro).

Em Panem há um mundo sumptuoso e fútil com uma exuberância extrema e desmedida no Capitólio que contrasta com o mundo pobre dos Distritos, principalmente dos mais longinquos, que lutam no dia-à-dia para se alimentarem e conseguirem dar comida aos filhos, como é caso do distrito 12. É este abismo entre este dois mundos o que considero ser o tema central do filme. O outro grande abismo é mencionado pelo Presidente Corioulanus Snow, quando este diz que "a esperança é a única coisa mais poderosa que o medo" e explica a Seneca que o povo não deve ter esperança. O poder político de um regime autoritário impõe medo às classes oprimidas e a esperança que 'o pobre' tem ou pode vir a ter é a coisa mais poderora que existe e o Presidente parece ter plena consciência disso.

Esta distopia futurista apresenta temas bastante actuais que podem ser encontrados em vários locais do nosso mundo. Talvez o mais flagrante seja o entretenimento dos reality shows (uma crítica subjacente no filme e até explicita em algumas cenas), onde nos mostra estes jovens a lutarem de forma sangrenta pela sobrevivência numa competição até à morte para o entretenimento de milhares de telespectadores. Nos Jogos da Fome, os concorrentes estão condicionados pela solução do governo poderoso, que criou os jogos para que todos se lembrem que a revolta não deu certo, e desta forma incute o medo à população e mostra o seu poder.
Não diria que o feminismo seja um tema relevante no filme, acho que Katniss é uma personagem forte e consistente, ela mostra segurança e ao mesmo tempo um lado humano capaz de fazer qualquer pessoa sentir simpatia por ela, apesar de não se considerar a pessoa  mais carismática. Mas tem presença, é um pouco badass, tem espírito de sacrifício e grande capaidades de aprendizagem para além de ser excepcional com o arco. É uma personagem forte, que podia ser do sexo masculino caso a autora dos livros assim o quisesse. Katniss torna-se especial, porque foi bastante bem desempenhada por Jennifer Lawrence.

Sim, é um blockbuster de acção de ficção científica, é uma crítica explicita aos reality shows, onde nos é mostrado a divisão de classes, entre o poder político e do exército do governo totalitário e as classes oprimidas dos distritos pobres, onde sobretudo mineiros lutam pela sobrevivência e contra a fome. Os jogos existem para lembrar o poder autoritário do governo sobre a população pobre e serve de entretenimento aos mais favorecidos do Capitólio. Há inclusive a repetição em slow motion de uma cena específica de morte em que mostra um antigo campeão a vencer os jogos, que apelidam de os "clássicos" dos Jogos da Fome. É esta parte mais crua, fria e realista que torna o filme interessante.

Em relação às acusações e comparações feitas à autora dos livros, são inevitáveis mas desnecessárias. Certamente Suzanne Collins teve muitas inspirações de vários autores e de vários filmes e até séries que leu e viu ao longo da sua vida. Mas todos vamos buscar algumas ideias a outras histórias e a outros filmes. Confesso que o entretenimento do público me faz lembrar o filme The Truman Show. Panem é parecido com Pan Am, o avião espacial de 2001: Odisseia no Espaço. Esta foi das poucas histórias em que vi primeiro filme antes de ler os livros e fiquei francamente interessada em ler a trilogia, pelo que fará certamente parte da minha próxima encomenda do Amazon.

Esta trilogia, que se está a tornar e já é um fenómeno, não podia resistir a outras comparações, nomeadamente à Saga Twilight e a Harry Potter. Neste caso acho que só pode ser comparável em termos de fenómeno de massas. Harry Potter era uma história de feitiçaria e magia extremamente apelativa, com personagens fortes, carismáticas e consistentes,  um mundo fabuloso com bons, maus e vilões, uma história bem negra e forte que atraiu leitores de todas as idades. É praticemente impossível igualar este fnómeno a quase todos os níveis (exceptuando claro, O Senhor dos Anéis - livros e filmes) mas estamos a falar histórias com personagens mais jovens. Twilight tornou-se um fenómeno, é facto. Mas neste caso estamos a falar da obra que estragou as cracterísticas mais interessantes dos vampiros. Mas nem vale a pena comparar, ponto.

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