domingo, 9 de setembro de 2012

Terrarium - Um romance em mosaicos

Terrarium - Um romance em mosaicos, é provavelmente um dos livros mais difíceis de descrever, exactamente por funcionar como um mosaico de contos e noveletas que compõem a estrutura do livro, pequenas histórias individuais que formam a obra total. É um livro de ficção científica único, escrito na língua portuguesa por dois autores, João Barreiros e Luís Filipe Silva, bastante conhecedores da matéria.

Terrarium, segue as aventuras e peripécias de várias personagens em locais diferentes, num espaço de tempo de cerca de dois anos, cujo desfecho é imprevisível e inesperado. Roy Baker, Clara de Sousa, Joel, Todd, Mr. Lux, Abdul, os Ixyitil, as Potestades, os kreepos, os vulpis e o Mestre Gra são algumas das personagens e espécies que interagem nesta delirante obra.

No prólogo, "O Segredo", que dá início à história, é-nos apresentado Abdul, um rapaz que se desenrasca como pode para sobreviver num mundo grotesco e injusto invadido por exóticos de várias espécies e origens.
Na Parte I, "A Arder caíram os Anjos", conhecemos Roy que trabalha numa loja que vende banda desenhada e se vê contratado por Mr. Lux, numa Londres degradada e  decadente, apinhada de espécies, uma cidade putrefacta.
Na Parte II, "Somewhere, under the rainbow", Clara de Sousa é recrutada para uma missão difícil, mas ao mesmo tempo aliciante, tanto pelo valor ideológico como pela recompensa que lhe é oferecida.
Na Parte III, "A Agoniada Arte Reprimida", o volpex Ka-Lir torna-se irmão de sangue de Joel, um rapaz humano que não queria a aventura que lhe é imposta, mas para a qual é aspirado quando se depara com um crime monstruoso.
Na Parte IV, "A Madrugada dos Deuses", segue-se a continuação  da aventura de Joel, mas do ponto de vista do vulpex, numa alucinante fuga com revelações interessantes.
Na Parte V, "No Coração da Luz", voltamos a encontrar Roy, dois anos após a sua extraordinária escapatória e descoberta; conhecemos Todd, um rapaz normal que faz várias descobertas perturbadoras; e ainda há um pequeno vislumbre de Clara e Joel, num momento pelo qual o leitor tanto esperava.
Há ainda a possibilidade de ler a Alternativa A: "O mundo sem homens", a Alternativa B: "O mundo sem Potestades" e a Alternativa C: "O mundo sem Ixyitil".

"Um romance monstruoso de Ficção Científica, perfeitamente assumido, pós-modernista, ciberpunk, com Inteligências Artificiais, extraterrestres, Grandes Objectos Estúpidos, visões apocalpticas do fim do mundo, e uma pitada de Metafísica." Esta descrição de João Barreiros é quase perfeita. Acrescentaria apenas: de uma imaginção evolutiva prodigiosa, inesgotável e delirante, com bastante conhecimento.

Este "mosaico" destaca sempre as revistas antigas e desaparecidas Pulp, ao longo dos vários contos, os Comics, as Amazing e Astounding Stories, as Unknown, Weird Tales e Super Science Stories, que são peças valiosíssimas, vendidas a preço de ouro. Há sempre um fã destes objectos raros e escassos, muito difíceis de adquirir, as revistas de Ficção Científica. Destaque também para a grande quantidade de tecnologia de ponta revolucionária categorizada que não deve chegar às mãos de todos (compreende-se mais tarde o porquê), numa Terra que evoluiu para a "lixeira" da Galáxia por onde toda a espécie de extraterrestes passam e vivem, onde se encontra um pouco de tudo. São mancionados várias vezes e aparecem mesmo, ícones do cinema, como é caso de Marlon Brando e Shirley Temple ou conhecidas personagens de Banda Desenhada que ganham uma espécie de vida.

Tenho de confessar e mencionar duas coisas que achei hilariantes. O Furão Filofax - de nome João - que é uma personagem com garra. E a Triste Judite, a permanente suícida que em todas as  tiras semanais arranja sempre um novo meio de se matar e que está em constante depressão. É divina!

Gosto particularmente do prólogo, "O Segredo", é uma excelente forma de começar este romance e "abrir o apetite" ao leitor. Em termos de Partes, destaco a Parte I, "A Arder caíram os anjos", pela apresentação que é dada de Londres e o destaque para a cena no apartamento que mistura Ariel, Roy e Mr. Lux; e a Parte II, "Somewhere, under the rainbow", com a viagem de Clara e todas as peripécias pelas quais passa. E, em relação às Alternativas, gosto bastante da Alternativa A e da Alternativa C (chamem-me optimista).

Nunca tinha lido nada de nenhum dos autores, João Barreiros e Luís Filipe Silva, de forma que não consegui distinguir as diferenças de estilo entre os autores de forma acentuada (também não estava muito preocupada com isso - a história em si é que conta). Apesar de gostar de algumas partes da história em particular, é o todo que se torna, de certa forma, genial. É a imaginação de FC que é fascinante e única em autores porugueses, numa obra tão bem falada e bastante aplaudida que é este Terrarium.

Sem comentários:

Enviar um comentário