sexta-feira, 25 de abril de 2014

The Book Thief, a guerra pelos olhos da Morte através de uma menina que roubava livros

Escrito pelo australiano Marcus Zusak, The Book Thief (em Portugal: A Rapariga que Roubava Livros), é um livro narrado pela Morte e passa-se durante a Segunda Guerra Mundial na Alemanha nazi, numa altura em que a Morte confessa ter andado muito ocupada. O narrador conta a história de uma menina e as suas relações com os pais adoptivos, os vizinhos, um judeu que os pais escondem na  cave da sua casa durante o pior período da guerra e mostra como era a vida na rua para onde a menina foi viver, com todos os dramas e atrocidades da guerra do ponto de vista da Morte, sobre as pessoas que viviam naquela rua. Publicado em 2005, o livro tornou-se um best-seller, venceu vários prémios literários e foi adaptado ao cinema em 2013.

O Diário de Anne Frank, que li na adolescência, deu-me uma pequena visão de uma das piores épocas da nossa história e cativou-me para me interessar por este período histórico. The Book Thief, levou-me de novo a esta época infeliz e atroz, agora com a Morte a contar a história, que tenta não se interessar muito pelos humanos quando colhe as suas almas, mas que não pode deixar de se interessar pela história de uma rapariga que roubava livros.

Liesel Meminger é uma rapariga de dez anos que vive na Alemanha nazi. A sua mãe, sem posses, decide que os seus filhos devem ser adoptados, mas o irmão de Liesel morre na viagem de comboio para Molching e é nessa altura que a Morte vê Liesel pela primeira vez. É no funeral do irmão que Liesel "rouba" o seu primeiro livro embora não o consiga ler.

Liesel chega à rua Himmel onde conhece o seu novo "papa" e a sua nova "mama", Hans e Rosa Hubermann. O pai ensina-a a ler, criando uma ligação imediata entre eles e aos poucos Liesel ganha o amor de Rosa também. Liesel é apresentada à vida da sua nova rua e conhece Rudy Steiner que se tornará o seu melhor amigo.

Aos poucos conhecemos as histórias de várias pessoas que vivem naquela rua e acompanhamos a forma como a guerra vai afectando as suas vidas. Liesel vai continuando a roubar alguns livros, aprende a conhecer as palavras e faz vários amigos. Hans decide esconder um judeu na sua  cave, Max Vandenburg, porque o pai dele tinha salvo a sua vida durante a Primeira Guerra Mundial, cimentando posteriormente uma grande amizade entre Max e a sua família de acolhimento. Max decide escrever uma história para Liesel nas folhas pintadas de um exemplar do Mein Kampf. A história, "The Word Shaker", é uma metáfora em forma de fábula sobre o poder e a forma como Hitler usa as palavras para alimentar a guerra. Mais tarde também vemos o poder das palavras quando Liesel lê para acalmar as pessoas durante os bombardeamentos e a forma como a leitura consola a Frau Holtzapfel.

Conforme o tempo passa e a guerra provoca cada vez mais pobreza, Rosa vai perdendo os seus clientes a quem lavava a roupa. Quando a sua última cliente, a mulher do Mayor, deixa de mandar lavar a roupa, Liesel fica furiosa e com a ajuda de Rudy decide roubar livros da casa do Mayor.

Ao longo da história acompanhamos várias tragédias de algumas personagens. Ilsa Hermann, a mulher do Mayor, perdeu o seu filho na Rússia e percebemos como essa perda afectou a sua vida. Frau Holtzapfel, que inicialmente é detestada por Rosa porque cospe para a sua porta, acaba por pedir a Liesel que lhe leia em troca de café e perde os seus dois filhos para a guerra. Rudy e a sua família, os Steiner. Não só conhecemos os "feitos" de Rudy como o habitante mais "famoso" daquela rua, como sabemos que teve de se juntar à juventude Hitelariana e que ganhou três medalhas nos campeonatos desportivos da escola. Rudy acompanha Liesel nas suas aventuras e, rebelde por natureza, acaba quase sempre por se meter me trabalhos. Está sempre a pedir que Liesel o beije, mas quando a rua é bombardeada e Liesel lhe tenta dar um beijo, Rudy já está morto.

O ponto alto e mais triste da história acontece quando um grupo de judeus passa pela Himmel Street e Liesel vê Max entre os judeus que estão a ser levados para um campo de concentração em Munique e decide caminhar ao seu lado, acabando ambos por serem espancados por um soldado nazi. É por esta altura que Liesel decide confidenciar a Rudy que ela e a família esconderam Max na cave e mostra-lhe o desenho dele com as três medalhas que tinha ganho.

É ainda notável a bondade de Hans Hubermann ao longo da história, desde o amor que ganha por Liesel, o que sempre notriu pela mulher, a sua compaixão pelos judeus, principalmente por Max, ou a forma como tenta sempre ajudar quem pode. Hans tem dificuldade em ganhar dinheiro para sustentar a família, apesar de tocar acordeão (que representa a divida para com Erik, o pai de Max que lhe salvou a vida na Primeira Guerra Mundial), para além disso nunca mostrou simpatia pelo partido nazi e acaba por ser envidao para a guerra. Volta da guerra com uma perna partida. A sua bondade também é vista quando os judeus passam pela rua e Hans tenta dar pão a um deles mesmo sabendo que vai ser castigado por isso.

Já na parte final, Ilsa oferece um pequeno livro preto a Liesel e diz-lhe que ela devia escrever a sua própria história. Na cave, Liesel começa e escrever "The Book Thief". Pouco tempo depois a rua Himmel é completamente bombardeada sem aviso (até esta altura tinha havido sempre avisos). Todos os que Leisel amava morrem no ataque. No final da guerra, Max regressa para encontrar Liesel na loja dos Steiner. No epílogo sabemos que Liesel viveu muitos anos e construiu família na Austrália e, quando a Morte vai buscar a sua alma, devolve-lhe o livro negro com a sua história que ela tinha deixado cair quando era adolescente.

O livro lê-se rápido, a história é triste, mas cativante e dá-nos um ponto de vista da guerra bastante diferente das histórias a que estamos habituados por ser do ponto de vista dos alemães, mostrando o dualismo da guerra na Alemanha nazi. É um óptimo exemplo de livro para adolescentes para conhecerem um pouco mais sobre um dos piores momentos da nossa história. Este retrato sobre a Segunda Guerra Mundial mostra uma narradora, a Morte (principal motivo que me levou a ler o livro), que é quase filosófica; aborda temas como a amizade e a coragem, a humanidade e a tolerância e principalmente a crueldade, passando pela literacia e a importância dos livros e da literatura no meio da guerra, da morte e do holocausto. É incrivelmente comovedor.

Sem comentários:

Enviar um comentário