sábado, 6 de outubro de 2012

The Hunger Games

Suzanne Collins
The Hunger Games
2008

Crítica:
Parece que as distopias futuristas apocalípticas estão mesmo na moda e The Hunger Games contribuiu com  vários factores para o sucesso deste género (pode ser que eclipse um pouco a avalanche de livros sobre vampiros que tem inundado as prateleiras das livrarias - mas não em demasia - uma vez que sempre que surge algo que vende, a tendência é o exagero).

The Hunger Games é primeiro livro de uma trilogia com o mesmo nome que fica completa com Catching Fire e Mockingjay (que ainda não li - já estão na estante à espera) da autora Suzanne Collins, que foi várias vezes acusada de se inspirar na história Battle Royale escrita por Koushun Takami, publicada em 1999 e adaptada em 2000 para filme pelo realizador Kinji Fukasako, o filme que Tarantino disse que gostava de ter realizado.

The Hunger Games capta o interesse do leitor pelos vários temas abordados ao longo do livro, que são muito actuais, apesar de a história se passar num futuro distante apocalíptico. A autora criou uma história forte e coloca uma crítica implícita ao mundo dos reality shows, à ameaça de guerra, a regimes autoritários ou ainda à, cada vez maior, obsessão com a moda que influência a vida de muitos no dia-a-dia.

Pelo que consta, este primeiro livro não revela por completo o funcionamento de Panem, mas fica-se a saber que esta sociedade autoritária foi o resultado de um desastre horrível durante os Dias Negros e que resultou no estabelecimento dos 12 Distritos sob o governo do Capitol. Foram instalados governos locais e pacificadores em cada distrito, mas as regras do Capitol têm um controlo apertado em tudo e todos em cada distrito. Cada distrito tem a sua especialidade que beneficia o Capitol, como a agricultura, minério ou peixe e alguns fornecem energia ou bens materiais para manter o Capitol, cujos habitantes estão somente preocupados com as últimas modas e boas formas de diversão num mundo luxuoso e sem quaisquer dificuldades. Os Jogos da Fome são a tradição anual que servem para divertir os cidadãos do Capitol, mas também para preservar o controlo sob os distritos e demonstrar o domínio do Capitol. Todos os anos, os 12 distritos devem enviar dois representantes, um rapaz e uma rapariga, como 'tributos' para fazer o povo creditar que é uma honra representar o seu distrito, apesar de a maior parte das pessoas viver com medo de ser seleccionado. Toda a nação deve ver os jogos em directo numa arena onde os 24 concorrentes devem lutar até à morte quando só permanecer um vencedor, que ficará muito rico. O governo criou o derradeiro reality show, que é complementado com desafios tecnológicos e uma monitorização completa dos movimento dos participantes.

A história é contada toda do ponto de vista de Katniss Everdeen, que vive no Distrito 12, o que está mais longe do Capitol, com a sua mãe e irmã e que desde cedo tem alimentado a sua família devido à morte do pai numa explosão nas ninas onde trabalhava. Tem caçado ilegalmente para lá das fronteiras do Distrito 12 e utilizado a caça que apanha para alimentar a família ou negociar trocas. Katniss é especialista com o arco e flecha e também sabe montar armadilhas, para além de ter um vasto conhecimento sobre plantas e frutos selvagens; tem desta forma mantido a família, mas também se tem inscrito na tessera, uma ração de cereais que são dados em troca de colocar o seu nome na lotaria para colheita, na cerimónia que determina quem vai representar o distrito nos Jogos da Fome. O nome de todos os cidadãos entre os 12 e os 18 são colocados na lotaria e cada vez que Katniss troca o seu nome pela tessera, aumenta as probabilidades de ser escolhida.

Mas este ano, o nome escolhido é Primrose Everdeen, a irmã que Katniss ama acima de todos, que só tem 12 anos, que é calma, amorosa e frágil. Katniss voluntaria-se como tributo pelo Distrito 12 para salvar a irmã. Peeta Mellark, o filho dos padeiro, é o outro representante do Distrito 12, a quem Katniss deve a sua sobrevivência na altura mais difícil da sua vida, pois foi graças a ele que ela e a família não morreram de fome e foi também isso que lhe deu coragem para começar a caçar e providenciar alimento. Katniss despede-se da irmã que adora, pede à mãe para se manter forte e não cair na mesma apatia como quando o pai morreu e deixou as filhas quase a morrer e despede-se do seu melhor amigo, confidente e companheiro de caça, Gale. Ela e Peeta são transportados num comboio de alta-velocidade de luxo para o Capitol, acompanhados por Effie (a extravagante representante do Capitol no Distrito 12) e Haymitch (o único tributo vencedor do Distrito 12) que deve aconselhar e treiná-los para a competição, mas Haymitch é um alcoólico que não parece muito preocupado em ajudá-los. Finalmente no Capitol, Katniss conhece Cinna e Portia que tratam do seu guarda-roupa e maquilhagem e graças à sua originalidade conseguem captar a simpatia da audiência com as chamas nos seus fatos, e começa os treinos e uma estratégia para conseguir sobreviver e conquistar patrocinadores.

A leitura é fácil, intensa e rápida e há bastante acção; a escrita é simples e directa; e a acção desenrola-se sem grandes demoras. Com temas bastante apelativos como os sacrifícios dos oprimidos, um governo autoritário ou a luta pela liberdade pessoal, para além da violência e as emoções fortes, um triângulo amoroso cliché ou a rapariga 'Wilhelm Tell' com arco e flecha num futuro apocalíptico, tudo funciona bem. Katniss é forte e resistente, cheia de recursos, é ela que toma conta de Peeta e o ajuda a sobreviver, é ela que o salva. Não estamos perante a típica história da menina indefesa que tem de ser salva pelo rapaz forte que vem sempre em auxilio da donzela em apuros. Aliás, Katniss é uma ameaça aos outros concorrentes, desde que conquistou um 11 na avaliação dos talentos dos concorrentes que é um alvo a abater desde o início dos jogos. Apesar de muita sorte à mistura, ela vai conseguindo sobreviver, mas é óbvio que o grande objectivo da autora seria sempre o desafio ao regime autoritário imposto através dos jogos e aquela bagas venenosas serviram perfeitamente o propósito.

Li algures a expressão 'primitivismo pop' para descrever este mundo que teve tanto sucesso e não posso deixar de concordar. Os nomes Seneca e Claudius remontam à Grécia e Roma antiga, uma época de gladiadores e lutas. Isto, aliado aos reality shows de sobrevivência para adolescentes, confere-lhe um tom um pouco pop. Há quem ainda estabeleça uma ligação com Lord of the Flies de William Golding, o que não deixa de ser um pouco verdade, pois trata-se de sobrevivência em condições extremas e da sobrevivência do mais forte. A autora dá relevância aos jovens, que embora se sintam e sejam vítimas, lutam pela sobrevivência e pelos ideais, tornam-se importantes. O sucesso do livro entre leitores e uma adaptação ao cinema relativamente boa, contribuíram definitivamente, para que esta distopia futurista ficasse na moda e nas listas dos mais procurados e vendidos na literatura para jovens adultos. 

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